Você ama o seu trabalho? Lembra dos seus sonhos?

By 24 de maio de 2018 abril 26th, 2019 Blog, Profissão

Você ama o seu trabalho? Lembra dos seus sonhos?

Em certos momentos da vida, sentimos necessidade de fazer um balanço do que vivemos.

Pode ser no momento do desemprego, na perda de uma pessoa que gostamos, por causa de uma doença avassaladora ou qualquer outro instante que nos faça despertar para nosso próprio “eu”. Em momentos como esses, costumamos fazer uma pergunta inquietante: “Estou realmente vivendo do jeito que gostaria de viver?”.

Na minha experiência em programas com profissionais de diferentes idades, em diferentes níveis de carreira, tenho testemunhado que esse momento raramente é fácil. Mas também percebi que esse tipo de questionamento é saudável e necessário.

 Em estudo publicado na Harvard Business Review, intitulado Redespertando sua paixão pelo trabalho, os pesquisadores Richard Boyatzis e Annie McKee descrevem quais são as diferentes sensações que informam o profissional de que está na hora de ele questionar o sentido de seu trabalho: 

1. “Sinto-me aprisionado”: às vezes, um emprego que era gratificante aos poucos se torna menos significativo e lentamente vai erodindo seu espírito e seu entusiasmo até você não ver mais muito propósito em seu trabalho. As pessoas descrevem esse estado como uma sensação de aprisionamento. Elas ficam inquietas, mas não conseguem mudar – ou mesmo expressar o que está errado. 

2. “Estou entediado”: muitas pessoas confundem cumprir as metas diárias com realizar um trabalho realmente gratificante, de modo que continuam definindo e cumprindo novas metas – até que se dão conta que estão entediadas. As pessoas costumam se chocar com essa revelação, pois percebem que perderam o contato com seus sonhos. 

3. “Não sou a pessoa que gostaria de ser”: algumas pessoas acabam se acostumando com decepções, frustrações e tédio com o trabalho até se renderem a uma rotina que é incompatível com quem elas são e o que realmente desejam. Em geral, isso ocorre por uma característica muito exigida dos líderes eficazes: a adaptabilidade. Ocorre que, sem uma forte autoconsciência, as pessoas correm o risco de se adaptar a ponto de não mais se reconhecerem.

4. “Não vou comprometer minha ética”: O sinal para fazer um balanço pode chegar às pessoas na forma de um desafio ao que elas consideram correto. Pode ser, por exemplo, que a pessoa seja obrigada a trabalhar para um chefe autoritário, que humilha os subordinados. Ou ter que subornar um servidor público para fugir de uma autuação ou vencer uma licitação. O problema é que as pessoas, com frequência, não escutam  esse sinal particular porque perdem de vista seus valores básicos. Às vezes, separam o trabalho de sua vida pessoal a ponto de não trazerem seus valores para o escritório.

5. “A vida é curta demais”: Às vezes é preciso um trauma, grande ou pequeno, para forçar as pessoas a fazerem um balanço de suas vidas. Tal despertar pode resultar de um ataque cardíaco, da perda de um ente querido, a saída dos filhos de casa, a celebração de um aniversário importante ou uma tragédia mundial. Prioridades podem se tornar evidentes em momentos assim, e coisas que pareciam importantes semanas, dias ou mesmo minutos antes, já não importam mais.

Não existe uma solução genérica para restaurar o sentido e a paixão em nossa vida. Mas existem algumas ferramentas que podem ajudar a romper com essas rotinas e permitir que os sonhos voltem à tona:

1. Reflita sobre o passado: sozinho ou com amigos, periodicamente faça um teste de realidade. Pegue uma ou duas horas e desenhe sua “linha da vida”. Começando pela infância, trace os pontos altos e os pontos baixos – os acontecimentos que lhe deram grande alegria e grande tristeza. Destaque as transições – épocas em que as coisas mudaram para você. Agora, olhe o todo. Quais valores parecem pesar com mais frequência e mais fortemente quando você faz mudanças em sua vida? Você costuma estar num caminho positivo ou houve muitos altos e baixos? Agora mude para o passado mais recente e examine estas perguntas: o que mudou ou não no trabalho, na vida? Como estou me sentindo? Como me vejo atualmente? Estou seguindo meus valores? Estou me divertindo?  Meus valores ainda combinam com minhas obrigações no trabalho? Os meus sonhos mudaram? 

2. Defina seus princípios para a vida: pense nos diferentes aspectos de sua vida que são importantes, como família, relacionamentos, trabalho, espiritualidade e saúde física. Quais são seus princípios básicos em cada uma dessas áreas? Liste cinco ou seis princípios que o orientam na vida e reflita se são valores que você realmente pratica ou de que só fala a respeito.

3. Expanda os horizontes: tente escrever uma página sobre o que você gostaria de fazer com o resto de sua vida. Ou então escreva os números 1 a 27 em uma folha e depois liste todas as coisas que quer fazer ou experimentar antes de morrer. Não se preocupe com as prioridades ou viabilidade – apenas anote o que lhe vem à mente. Ao terminar o exercício e examinar seu texto, note os padrões que ajudam a começar a cristalizar seus sonhos e aspirações.

4. Crie “momentos para reflexão”: incorpore em sua vida tempo e espaço para o autoexame, sejam umas poucas horas por semana, um ou dois por mês ou um período maior a cada ano. Para muitas pessoas, as práticas religiosas proporcionam a reflexão, mas a reflexão não precisa envolver religião organizada. Podem ser atividades físicas, trabalhos manuais, passear de moto. Não importa o que você faça, a ideia é se afastar das exigências de seu trabalho e estar com seus próprios pensamentos.

5. Procure um coach: nossas próprias inclinações e experiências às vezes tornam impossível acharmos uma saída para uma situação difícil ou desconcertante. Precisamos de uma perspectiva externa. A ajuda pode vir informalmente da família, dos amigos e colegas, ou pode vir de um coach profissional.

6. Encontre um sentido novo em território familiar: nem sempre é viável mudar de empresa ou para uma atividade nova, mesmo que sua situação seja indesejável. E francamente, muitas pessoas não querem fazer mudanças tão grandes assim. Mas muitas vezes é mais fácil do que você imagina fazer pequenos ajustes para que seu trabalho reflita mais diretamente suas crenças e valores – desde que você saiba do que precisa e tenha coragem de correr certos riscos.

Essas ferramentas podem ajudar a todos, estejam em crise ou não. Afinal, mais cedo ou mais tarde, a maioria das pessoas sentirá uma necessidade urgente de reavaliar suas vidas – e se tiverem a chance de prestar atenção ao chamado, provavelmente emergirão mais fortes, sábias e determinadas do que nunca.

Fonte: Redespertando sua paixão pelo trabalho / Richard Boyatzis; Annie McKee – Revista Harvard Business Review. São Paulo: HSM do Brasil, 2016.

 

André Castro é formado em Ciências Contábeis pela UFRJ com pós-graduação em Finanças Corporativas pelo IBMEC e Management pela PUC/RJ. É diretor de conteúdo da LabPub e responsável pelas disciplinas de Finanças, Contabilidade e Estratégia.

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