The book is on her table
Beatriz Alves vende livros em inglês na América Latina e no Caribe, faz questão de conhecer as livrarias e de seu trajeto pelo mundo faz fotos maravilhosas
Beatriz Alves está, como se diz, muito bem na foto. É caso mais raro se deixar fotografar do que fazer lindas fotos. Mas o que essa paixão dela também informa é sobre sua atuação profissional: o olhar é o mesmo, atento ao macro e ao micro, atento ao primeiro plano e ao fundo. Beatriz não se considera uma vendedora nata, mas uma “conversadora”. É do papo com seus clientes, com os leitores dos livros que vende, que ela tira as informações necessárias para atender a todos cada vez melhor. O enquadramento, eis um dos grandes segredos da fotografia, conceito que serve bem ao meio editorial, com certeza.
LabPub – Como é seu trabalho, Bia? Não são muitas pessoas no Brasil que atuam como você, é isso mesmo? Conte da sua rotina com pessoas de toda a AL, por favor.
Beatriz Alves – Trabalho com vendas de livros em inglês da HarperCollins Estados Unidos e Inglaterra na América Latina e Caribe (assumi esse novo território em Janeiro). Como estou no Brasil muita gente acha que trabalho para a HarperCollins Brasil ou que vendo direitos de livros para as editoras brasileiras. Porém são os livros no idioma inglês que vendo à livrarias e distribuidoras. Viajo anualmente para visitar os livreiros nos territórios mais relevantes como México, Colômbia, Peru e a cada dois anos para os territórios menores – acreditamos muito que conhecer as livrarias, entender a política e economia daquele local, ter contato com os compradores no seu país, fazer treinamentos com a equipe, fazem muita diferença. Também participo das maiores feiras: Londres, Nova Iorque, Frankfurt e Guadalajara.
LabPub – O mercado editorial brasileiro é muito diferente dos mercados de outros países da AL e do exterior? Como define as principais especificidades daqui?
Beatriz Alves – Um cliente mexicano sempre me diz que o Brasil poderia estar em qualquer continente, pois é tão diferente dos seus vizinhos – tenho que concordar. Consumimos muito conteúdo americano mas gostamos de conteúdo inglês (é o país que melhor vendo minha lista britânica). Colombianos não são adeptos de livros com capa de filme, ou romances como Jojo Moyes (ambos vão muito bem no Brasil). O que funciona lá é fundo editorial e o Top 5 mesmo, “crème de la crème”. O Brasileiro já é mais ousado, pesquisa bastante referência, consome muito conteúdo digital, aceita indicações. Os colombianos não compram online, enquanto os mexicanos e os brasileiros adoram. Mexicanos seguem consumindo muito livro juvenil mesmo com a queda no último ano do segmento. Estou adorando descobrir as tendências do Caribe – território que vende muito material cristão em inglês e é muito influenciado pela Lista do New York Times. Todas essas nuances são com certeza o aspecto preferido do meu trabalho. Não me considero uma “vendedora nata” – mas uma conversadora nata, e assim vou descobrindo tendências que incrementam a parte análitica. O interessante de trabalhar em uma grande editora com alcance mundial é que os lançamentos estão agendados há muito tempo (um ano com certeza). É possível fazer uma programação anual com mais facilidade, saber de antemão os grandes lançamentos e especular com o cliente com antecedência. Os lançamentos são mais do que meu HD cerebral conseguem gravar (ou ler), mas a tecnologia nos ajuda muito e mais de cem anos de experiência editorial pra contar história.
LabPub – Não é segredo que você é uma talentosíssima fotógrafa. Como a fotografia ocupa sua vida no dia a dia? O que é fotografar, Bia? O que busca idealmente nas suas imagens?
Beatriz Alves – Agradeço o elogio, mas sou apenas uma entusiasta. Meus pais sempre deixaram câmera fotográfica comigo (eu acho que limitavam o número de “poses” que poderia clicar – para os jovens leitores, o filme só tinha 12, 24 ou 36 poses ou fotos disponíveis pra clicar), então acho que antecede minhas memórias a minha vontade de registrar momentos – e principalmente retratos. Meu único pedido aos meus pais quando soube da existência de uma Sony Cibershot foi pedi-la de aniversário (e nunca mais pediria outro presente a eles). Em minha última viagem à Eslovênia, em Fevereiro, caminhando pela feira de domingo, notei que esqueci a bateria extra no hotel e tentei aproveitar aquele momento pra registrar na memória as pessoas interagindo, comprando alimentos e se divertindo – o cotidiano – mas não aguentei e fui com o celular mesmo. É o que eu busco – não gosto muito de fotografar paisagens (no entanto estou adentrando o mundo da astrofotografia), meu lance é fotografar as pessoas quando estão confortáveis, vulneráveis, se divertindo. Eu amo a reação das pessoas (que na maioria das vezes odeia ser fotografada) sorrindo ao ver um clique meu. Eu gosto de ter exatamente essa reação, guardar um momento que me trouxe felicidade e trará a qualquer pessoa que vê-las.
Abaixo, uma galeria de fotos feitas pela Beatriz Alves, entre as preferidas que ela já clicou.