Real Job: mão na massa e aprendizado
Acaba de sair edição de O dinheiro, de Émile Zola, com tradução de Nair Fonseca e João Alexandre Peschanski, pela editora Boitempo, com revisão de alunas e alunos da Turma 4 do curso REAL JOB REVISOR DE TEXTO.
O professor foi André Albert, e o curso também teve como resultado prático a revisão conjunta e orientada do livro A garota anônima, da Faro Editorial (com tradução de Fábio Alberti).
O professor falou desses trabalhos com o blog da LabPub:
Fazer essa mediação foi uma experiência ótima, até porque as oportunidades para esse tipo de troca de impressões andam cada vez menos frequentes no mercado. Em razão do número de inscritos, acabamos trabalhando com dois livros – os dois de ficção, mas bastante distintos um do outro. De um lado, um suspense estadunidense de caráter mais comercial; de outro, um autor clássico da literatura francesa do século XIX.
Foi bastante interessante debater com a turma – e uma turma muito interessada e competente! – as escolhas a tomar em cada caso. Com certeza foi uma experiência rica poder montar uma “equipe” por livro para definir conjuntamente critérios internos no decorrer do trabalho e, ao mesmo tempo, possibilitar a essas equipes uma comparação de suas experiências. A preparação de originais é um processo de escolhas, não só de aplicação de procedimentos fixos. Acredito que isso ficou bastante evidente no trabalho com ambos os livros.
Livros traduzidos impõem algumas necessidades. O cotejo com o original é sempre algo desejável, mas nem sempre ao alcance de todos os profissionais, seja pelo domínio insuficiente da língua original, seja pelas limitações do cronograma (ou do orçamento). Preparar livros traduzidos abre uma oportunidade de lançar um novo olhar sobre escolhas feitas na tradução, sempre tentando manter as características gerais de estilo que um (bom) tradutor imprime ao texto. Ao mesmo tempo, trabalhamos quase sempre em cima de um texto de estrutura e conteúdo já consolidados (exceto nos casos em que há uma demanda por uma adaptação mais radical ou em que o autor solicita alterações em relação à edição original). Já um original em língua portuguesa é, em muitos casos, inédito, um texto que nunca passou por intervenções ou olhares externos. Quando não há um editor que ponha a mão na massa antes, o preparador pode acabar se vendo no papel de lapidar mais extensamente o material para aprimorá-lo em termos de estilo ou mesmo de clareza na expressão das ideias. Nesse trabalho específico, as traduções tinham muita qualidade, então o nível de intervenção foi relativamente modesto. Mesmo assim, por ser um trabalho compartilhado entre várias pessoas, dedicamos um bom tempo aos materiais para conseguir chegar a decisões comuns.