Conheça melhor Nanete Neves, jornalista, ghostwriter, biógrafa e poeta, professora na LabPub do curso GHOSTWRTING & BIOGRAFIA
Nasci e vivo até hoje em Sampa, filha de pais que também nasceram aqui (o que é raro), e neta de imigrantes portugueses e iugoslavos que se estabeleceram no bairro da Mooca no começo dos anos 1900. Nunca morei em outro lugar, o que é estranhíssimo, né?
Meu encontro com os livros foi bem precoce. Meus pais tinham um bazar/papelaria no Alto da Mooca, ali fui criada, ajudando com pequenos serviços como embrulhos para presente, subir na escada para pegar algo no alto das prateleiras, e assim que alfabetizada (por volta dos sete anos), aprendi a subir num caixote até aquela máquina registradora enorme e receber e dar troco (e fazia direitinho, viu?).
A loja era muito animada, sempre tinha gente lá papeando com o meu pai, um geminiano que adorava um debate. Mas havia os momentos sem movimento e então comecei a ler os livros que eram vendidos ali.
Na época, não havia muita literatura para crianças, exceto a coleção de 23 volumes de O Sítio do Picapau Amarelo, do Monteiro Lobato, embora eu pequeninha ainda preferisse ler os livros para adultos dele, tipo Urupês.
Mas foi a saudosa Coleção Jabuti que me fez começar a amar os livros e com eles eu viajava para outros mundos. Perto dos nove anos comecei a ler obras de José de Alencar, Machado de Assis, Camilo Castelo Branco etc. Lembro também de ter lido “Os Luzíadas“, de Camões. Não devo ter entendido nada, é claro, mas intuitivamente devo ter percebido que aquilo era um poema, porque esse eu gostava de ler baixinho emitindo som. Lembro de aquilo me soar como música.
De tudo o que já fiz no meio editorial acho que o que mais gosto é de contar histórias, as minhas que escrevo em meus livros (tenho gostado mais de trabalhar com memórias) e as dos outros (isso quando escrevo como ghostwriter).
Gosto muito também de dar dicas e orientar novos escritores, por meio dos meus cursos ou do trabalho de leitura crítica de originais, muitas vezes cuidando até da edição do livro.
O que menos gosto são os prazos muitas vezes apertados.
Parece que tenho cara de bombeiro, porque sempre sou chamada para apagar incêndios…rs
Acho que nunca tive um que chamasse “O livro da minha vida”. Li vários que amei de paixão e volta e meia releio outra vez porque são verdadeiras aulas, mas não poderia apontar um ou dois apenas. Relembro sempre de As vinhas da ira (John Steinbeck), Cem anos de Solidão (Gabriel García Márquez), Memorial de Maria Moura (Rachel de Queiroz), Dom Casmurro (Machado de Assis), A casa dos espíritos (Isabel Allende) , A insustentável leveza do ser (Milan Kundera), Dois irmãos (Milton Hatoum) e muitos outros.
Momento fã
Em 1977, quando era novata no jornalismo, recém-saída do estágio, trabalhava num pequeno jornal de São Paulo que resolveu fazer uma matéria com Carlos Drummond de Andrade quando ele ia completar 75 anos, e me enviaram ao Rio de Janeiro onde ele morava.
Como sabia que ele nunca havia dado uma entrevista sequer e fugia de jornalistas, tive a ideia de pelo menos fazer um perfil do poeta.
O escritor e dramaturgo José Louzeiro me ajudou dando os contatos de 5 escritores amigos de Drummond, e cada um deles acabou me dando mais um ou dois contatos. Assim, tive a oportunidade de conhecer gente do quilate de Antônio Calado, Affonso Romano de Sant’Anna, Nélida Piñon, Antonio Houaiss, Ferreira Gullar e muita gente de quem era fã como leitora.
Mas o grande prêmio mesmo foi Drummond ter aceitado me receber em seu apartamento (ao qual nem seus amigos tinham acesso),e ter construído com ele uma relação delicada com troca de cartas e telefonemas por dez anos, até a sua morte.
Essa história eu contei 40 anos depois no livro O Poeta e a foca (atualmente disponível na Amazon Kindle).
Momento Ministério Especial da Leitura e do livro – Ministra Nanete Neves
Acho que tudo parte da Educação. Se as crianças de hoje tiverem acesso a uma boa formação, com bons professores que incentivem a leitura de fato, elas se transformarão em leitoras, e futuramente farão filhos leitores também.
É mais difícil ter apego aos livros se a criança não tem o modelo em casa. Ou seja, resumindo, acho que se o Brasil investir nisso agora, teremos mais leitores a médio e longo prazo. Não é algo pra já, infelizmente.
Outra coisa: hoje temos uma enormidade de gente que lê muito rapidamente, como se estivessem fazendo uma competição, tem até cursos para ensinar a ler rápido, imagina só? Não fazem uma leitura de qualidade e, portanto, não fixam nada do que leram.
Se já é difícil conseguir que as pessoas se interessem em comprar e/ou presentear livros, e as que compram não aproveitam todo o conteúdo, o que esperar? Posso estar sendo pessimista, mas não vejo possibilidade desse quadro mudar tão cedo.
Nanete Neves, professora
Desde 2011, depois de toda uma carreira no jornalismo e de cursar várias oficinas com grandes mestres e dois cursos de pós-graduação em escrita, venho ministrando dois cursos. Nesse período conheci muita gente bacana, interessada em aprimorar sua escrita e se desafiar (eu adoro provocar).
Muitos desses alunos se transformaram em meus amigos de fato, e fiicaram amigos entre eles.
Mantemos sempre contato e a minha maior alegria é ver os que investiram de fato nos novos conhecimentos e se sentiram seguros para lançar seus próprios livros, ou então se jogaram no mercado como ghostwriters competentes e cheios de ética.
Alguns eu até ajudei a encontrar editora que publicasse seu trabalho, de tanto que gostei da obra.
A cada lançamento, sinto que colaborei um pouco para isso e festejo muito dentro de mim, como se tivesse feito um belo gol.