O repórter do livro
O que é importante no mundo editorial no Brasil passa necessariamente pelas perguntas e pelos textos do jornalista Rodrigo Casarin.
Rodrigo Casarin é o responsável pelo blog Página Cinco, que é parte atualmente do portal UOL, na internet. Jornalista premiado, com especialização em Jornalismo Literário, ele é do tipo que perde o amigo mas não a notícia – não por mais cliques ou glória, mas por seriedade, compromisso mesmo com a ética. É comum que participe de mesas literárias como mediador, já foi jurado de importantes prêmios literários e escreve resenhas para o jornal Rascunho. Nesta entrevista, Casarin conta mais de sua trajetória e expõe observações sobre o mercado editorial.
LabPub – Dos anos em que você atua como jornalista especializado no meio editorial, qual foi a mudança mais impactante que você testemunhou (e noticiou)? (aproveitando, conte um pouco desse sua trajetória nesse meio)
Rodrigo Casarin – Escrevo sobre livros há pelo menos dez anos, mas esse se tornou meu foco profissional em 2014. Já contribuí para veículos como Valor Econômico, Rascunho, Suplemento Pernambuco, Aventuras na História, Carta Capital, Continente… Desde então, meu carro-chefe é o Uol, mais especificamente o Página Cinco, blog de livros que toco por lá há cinco anos. De pronto, não saberia dizer uma mudança impactante por si só. Só que vivemos numa crise constante. A financeira, com a quebra de grandes livrarias e de diversas editoras, seria uma resposta fácil. Tenho a sensação, no entanto, que há uma crise mais grave: me parece que há um interesse cada vez menor das pessoas por livros.
LabPub – Você faz parte do que se convencionou no senso comum a chamar de “a mídia”. Passou-se a falar da “mídia tradicional” e das “novas mídias”, nos últimos anos. Afinal, onde você se localiza: na tradição ou na novidade? Comente também, por favor, sobre o espaço de divulgação dos livros: é maior hoje do que há 20 ou 30 anos ou menor?
Rodrigo Casarin – Bem, meu carro-chefe é um blog, o que faz parte das novas mídias. Um blog hospedado no maior portal da América Latina e vinculado a um dos veículos de comunicação mais antigos do país, o que faz parte da velha mídia. Sinceramente, me vejo bem no meio de campo entre uma coisa e outra. Com a internet, as redes sociais e a facilidade de todo mundo produzir algum tipo de conteúdo, me parece que o espaço para a divulgação de livros ou qualquer outro tipo de produto é muito maior hoje do que há algumas décadas. Por conta da pulverização, o impacto de cada ação de divulgação talvez seja absolutamente menor, mas atinja um público realmente interessado naquele produto. Mas há outras discussões que deveriam entrar no balaio: qualidade da informação produzida, foco da informação produzida (a divulgação se faz como consequência de um interesse jornalístico ou ela já nasce como a finalidade de uma peça de marketing/ publicidade muitas vezes disfarçada de conteúdo editorial?), idoneidade…
LabPub – As editoras estão fazendo bem o trabalho de divulgação dos livros, na sua opinião? Comente a respeito por favor.
Rodrigo Casarin – Com relação à imprensa a coisa hoje me parece pior do que era há quatro ou cinco anos. As assessorias ou departamentos de comunicação que ainda existem estão cada vez mais amarrados, com assessores que se transformaram em meros disparadores de release. Há exceções, claro, mas o sentimento geral é esse. Agora, talvez o foco da divulgação das editoras tenha mudado de vez. Talvez o foco não esteja mais no jornalismo, mas em criar material de marketing com influenciadores digitais.
LabPub – Você tem em mente qual foi a melhor e a pior notícia que já deu sobre o mundo dos livros?
Rodrigo Casarin – Não saberia dizer a melhor, mas sempre fico feliz quando consigo contribuir com informações atuais, análises embasadas por livros contemporâneos ou contextualizações histórias para assuntos quentes no debate público. A pior não é só uma, mas essa série de notícias de perseguições à arte, à liberdade de pensamento e à difusão de ideias que estamos vendo de alguns anos para cá.