FORÇA TOTAL AOS INDEPENDENTES
Reportagem recente do Jornal Nacional mostrou que a solidariedade, que marcou os meses iniciais da pandemia do coronavírus no Brasil, havia se retraído um pouco, quanto às doações em dinheiro para as pessoas mais atingidas. O meio editorial não demorou a pedir ajuda principalmente às empresas e profissionais que mais sofreram retrações nos ganhos, devido às medidas de isolamento social e fechamento necessário do comércio. Entre as campanhas de destaque do movimento de crowdfunding de socorro estão a +Livros e o projeto Retomada. Mas com essa tendência de perda de fôlego das vaquinhas digitais, o que permanecerá para garantir a diversidade do mercado, tanto de publicações quanto de pontos de venda em todo o país?
Conversamos sobre o assunto com Orlando Prado, da Quincas Consultoria, que já foi gerente tanto de livraria quanto de editora. Para ele há uma oportunidade agora de equilibrar as forças no meio editorial de forma mais permanente.
“Qualquer campanha de arrecadação de fundos para o setor livreiro é de vital importância para garantir fôlego ou uma sobrevida para quem sofreu e ainda sofre com as quedas de faturamentos causadas pelas consequências da Covid-19.
Essas ações acabam suprindo uma ausência de políticas públicas direcionadas para o setor. Não observamos um conjunto de ações efetivas para garantir linhas de créditos e subsídios para investimentos, que seriam de fundamental importância para, por exemplo, garantir investimentos para a criação de operações em novos canais de vendas, principalmente no universo on-line.
É importante ressaltar que essas campanhas não serão capazes de sanar as dificuldades que o nosso mercado vem enfrentando, como dito anteriormente, elas garantem um novo fôlego, mas são insuficientes e não atendem a necessidade financeira de todos.
Infelizmente o engajamento dos próprios interessados ficou aquém do esperado, boa parte das empresas do setor sequer realizou algum tipo de divulgação. Temos exceções, mas precisamos refletir sobre os motivos de livrarias e editoras não se envolverem em ações de ajuda ao mercado.
Para além das campanhas de arrecadação, sinto falta de campanhas que estimulem os leitores para comprarem de livrarias e editoras independentes e que não possuem a mesma estrutura das grandes empresas do setor, sinto falta de uma maior união entre livrarias e editoras para que busquem alternativas de sobrevivência no curto, médio e longo prazo. Temos que valorizar as empresas transparentes e que possuem bons históricos de relacionamento.
Caminhamos a passos largos para uma grande concentração, praticamente um monopólio da distribuição de vendas do nosso mercado, mas ainda temos tempo para fortalecer os independentes. É hora de garantirmos a diversidade do nosso setor, campanhas de arrecadação são importantes, mas é hora de partirmos para campanhas de divulgação dos independentes e estímulo dos leitores para comprar daqueles que mais precisam gerar faturamento nesse momento.”
A foto em destaque é do lançamento do livro Abraços negados em retratos, de Simone Paulino (Editora Nós), na Livraria da Travessa, em São Paulo, há cerca de um ano.