O título dessa postagem poderia bem ser: Precisamos vender mais livros (logo!).
Os números preocupantes brotam da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, sobre a movimentação de 2022, realizada em parceria pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData.
É fácil, pelos números, encontrar quem veja copos meio cheios ou meio vazios. O número de exemplares vendidos foi menor do que em 2021. O faturamento, no entanto, foi maior… mas apenas se desconsiderarmos a inflação, que é mais ou menos como desconsiderar o aquecimento global. Portanto, colocando a inflação na conta, houve queda também no faturamento, em torno de 3%, comparando com os resultados de 2021.
O contexto nos ajuda a compreender: tem a situação geral da economia brasileira, especificamente, além da mundial, impactadas fortemente pela pandemia do Covid-19, sem deixar de lado questões políticas, que também afetaram a compra de livros por parte do governo brasileiro, um player importantíssimo.
Mas a pesquisa revela mais do que números de boca de caixa e as essenciais planilhas excel. O jornalista especializado em mercado editorial e professor na LabPub, Leonardo Neto, apresentou o evento que divulgou os resultados e lança algumas luzes fundamentais:
“Talvez o que mais chame a atenção nos resultados da ‘Produção e Vendas’ seja que as ‘Livrarias Exclusivamente Virtuais’ tenham alcançado o topo do ranking dos canais de vendas das editoras brasileiras. Chama a atenção, sim, mas não é surpresa. Elas já vinham numa escalada importante nos últimos anos e isso se acelerou muito com a pandemia. Ao serem questionados se as entidades ou o mercado não estariam preocupados com o crescimento das ‘Livrarias Exclusivamente Digitais’, Dante Cid, presidente do SNEL, e Sevani Matos, da CBL, foram unânimes ao apontar que nenhuma concentração pode ser positiva para o setor editorial. É importante que haja este tipo de posicionamento por parte deles.”
Leonardo Neto, que em setembro volta às telas da LabPub, no curso Formação de Publisher, continua sua análise:
“Ainda falando de canais, outro dado importante é a aparição, pela primeira vez em 16 anos, do canal ‘Bienal/Feiras’ neste mesmo ranking. Isso mostra a potência da última Bienal do Livro de São Paulo. Como um dos curadores desta edição, fico muito feliz em ver isso. Por fim, outra coisa que chama a atenção aparece na ‘Conteúdo Digital’, que passa a acolher os dados das editoras de didáticos. Essas editoras não comercializam diretamente os seus conteúdos digitais, mas os oferecem via plataformas digitais de ensino. Isso nunca tinha sido medido antes. É, portanto, um marco importante na pesquisa.”
E este ano?
Como diriam sem rodeios os personagens do livro Cocô de passarinho, de Eva Furnari:
― Como vão os negócios?
― Vão mal.
Basta, para isso, verificarmos outra pesquisa divulgada essa semana, conforme noticiou o portal PublishNews [link]. O volume de vendas foi 3,59% menor no mês de abril de 2023 (que a parceria Snel/Nielsen chama de período 4), em comparação com 2022. Qual será a história até o fim do ano? Espera-se, claro, que o ano termine como no desfecho de Cocô de passarinho.