Daniela Senador comanda o curso PROJETO EDITORIAL
Você planeja montar uma editora, reposicionar a sua ou mesmo ter mais segurança sobre como tem atuado? Ouça a professora desse curso que começa dia 5 de maio aqui na LabPub.
O curso PROJETO EDITORIAL: COMO ELABORAR UM PLANO PARA UMA EDITORA DE SUCESSO terá 18 horas de aulas ao vivo, apresentando as principais questões da criação de uma editora. Com variada e profunda experiência nesse nosso mercado, Daniela Senador vai abordar os principais pontos de um projeto editorial, qual a estrutura necessária, os aspectos financeiros, marketing, análise de mercado, entre outras considerações fundamentais.
Em mais de quinze anos, Daniela Senador liderou uma centena de projetos nas áreas de Marketing e Comunicação para agências, consultorias, organizações nacionais e multinacionais privadas, públicas e do terceiro setor. Foi Gerente de Mídias Digitais da Editora Cosac Naify e há dez anos dá consultoria para empresas e personalidades do mercado editorial, como as editoras DSOP, Edebê Brasil, Instante, Nós, SESI-SP e SENAI-SP, Temporal, Timo e VR Editoras, a Livraria Martins Fontes Paulista e o autor Juliano Garcia Pessanha. É integrante do comitê gestor do Coletivo Virginia, que tem foco no ativismo de mulheres do mercado editorial brasileiro. Também atua fortemente com organizações culturais, com destaque para Cinemateca Brasileira, Itaú Cultural e Sesc, e no mercado educacional, como consultora e professora. Possui MBA Executivo em Negócios pela FGV, é mestre e graduada em Comunicação pela ECA-USP, e aluna especial do programa de pós-graduação stricto sensu da FEA-USP.
Generosamente, logo no início dessa crise de recolhimento social no esforço de reduzirmos ao máximo possível o contágio do novo coronavírus ela concedeu esta entrevista à LabPub.
LabPub – Sua vivência no meio editorial parece bem variada. Sua formação também, entre os negócios e a comunicação (me corrija caso esteja errado, por favor). Imagino que isso tudo conflua hoje na sua atuação profissional. Comente essas situações, por favor, e nos conte como é o seu trabalho hoje em dia.
Daniela Senador – Eu realmente tenho um perfil multidisciplinar e, consequentemente, uma formação bem híbrida – sou curiosa, inquieta, gosto de desafios, novas aprendizagens e me interesso por diversas áreas de conhecimento. Minhas experiências na academia e no mercado foram direcionando a minha carreira, mas o que sempre me moveu foi o espírito crítico e analítico. Recentemente, ouvi de um coach de carreira experiente, que conheci ao acaso, que me enquadraria nos 5% dos profissionais de difícil definição para ele.
Desde o Ensino Fundamental decidi que seria jornalista – filha de pais professores de português, sempre fui apaixonada por escrever e me identificava com o espírito aventureiro da profissão. Ingressei na graduação em Jornalismo, mas, nos últimos anos, me conectei com o universo do audiovisual e empreendi uma pesquisa como trabalho de conclusão de curso que foi a minha porta de entrada para o mestrado na área. Ambas as pesquisas são interdisciplinares e marcadas por uma investigação e trabalho de campo intensivos.
A dedicação integral à academia me frustrou e voltei ao mercado para trabalhar com marketing digital. De editora de conteúdo numa das maiores agências de comunicação do país, à época, ingressei como gestora de e-commerce na Editora Cosac Naify, um desafio e tanto na minha carreira. De plantonista no hotsite da TAM na queda do voo JJ3054, assumi uma promoção de 50% em catálogo completo numa das editoras brasileiras mais renomadas. Não foi fácil. Inquieta, me interessava muito pela estrutura organizacional da editora e estimulava processos ligados à Gestão do Conhecimento. Da editora, fui convidada para trabalhar numa consultoria de Gestão de conhecimento e Inovação, a TerraForum, experiência que mudou completamente meu mindset profissional. Lá, me apaixonei pelo universo de consultoria, da administração e do marketing. Era um espaço inovador de trabalho de altíssimo nível intelectual, no qual a colaboração, o intercâmbio de conhecimento, eram a base. Nutri a vontade de ter uma empresa e criei uma agência digital, vivenciando, nesse microcosmo, o sucesso e as adversidades que empreender proporciona. Paralelamente, foram surgindo convites para ministrar aulas e, assim, me reconectei com a academia e com a paixão pelo ensino, que meus pais sempre me transmitiram. O mercado editorial sempre esteve presente em todas estas experiências – atendi editoras de todos os portes, livrarias, autores e ministrei uma série de cursos livres e de pós-graduação exclusivos para profissionais do setor. Estou imersa nesse mercado há mais de uma década.
Em 2019, o ciclo de empresária se encerrou e comecei um novo, atuando como consultora autônoma e professora em marketing estratégico e comunicação. Divido meu tempo realizando, de um lado, planejamento para desenvolvimento de novos negócios, estratégia de marketing e pesquisas de mercado, e, de outro, aulas em diversas instituições de ensino e em empresas. São dois caminhos, duas grandes paixões que se complementam. O mercado e a academia, na minha história, deram as mãos.
LabPub – O meio editorial é considerado ainda de aspecto predominantemente conservador. Você vê assim? O que mais gostaria que mudasse no mercado editorial brasileiro, para que melhorasse?
Daniela Senador – Como tive oportunidade de trabalhar com empresas nacionais e multinacionais de diversos portes e segmentos de mercado, não apenas o editorial, construí uma visão holística, sistêmica, do marketing. O mercado editorial brasileiro têm aspectos inovadores e conservadores como todos os mercados.
O produto não padece de falta de inovação e a Cosac Naify, pioneira, deixou o seu legado. O marketing, por sua vez, foi sempre relegado a segundo plano, como uma área menor em relação ao core business das editoras. Há alguns anos não era possível chamar o livro de produto – ele era soberano a qualquer aspecto comercial inerente ao negócio ao qual ele pertencia, também negado. Mas vejo este cenário passando por forte transformação.
O editorial é um dos segmentos com menor verba de marketing e o problema não é apenas o ciclo financeiro distendido. A posição do marketing nas editoras também influencia, muitas vezes, o baixo investimento para se trabalhar. Há casos em que não existe planejamento de distribuição do budget para as áreas e a verba de marketing não é estabelecida segundo um critério lógico no plano de negócios da empresa. Por isso, durante muito tempo, o que vimos foi “mais do mesmo”. O editorial aprendeu uma fórmula para fazer marketing, replicada com esforço por poucos profissionais sem budget para trabalhar, que exerciam funções de uma equipe, e todas elas direcionadas para difusão de conteúdo sem planejamento, em detrimento de outras iniciativas de ampliação de alcance e conversão em vendas. Faltava um olhar menos autocentrado para acompanhar o que acontecia em empresas de outros segmentos sem preconceito. No entanto, o fato de conhecer a situação de muitas editoras e livrarias, e ter contato com inúmeros profissionais do setor que buscam cursos na área de marketing e negócios me faz perceber que caminhamos para uma mudança de mindset. Prova disso é que já existem cases de marketing no editorial capazes de inspirar outros mercados, caso da Antofágica, Darkside, Livraria Leonardo da Vinci e TAG.
LabPub – Conte por favor o que é e o que pretende o coletivo Virgínia.
Daniela Senador – O Coletivo Virginia reúne, hoje, mais de 200 mulheres do mercado editorial que desejam estar juntas não apenas para networking, intercâmbio de conhecimentos e debates, mas em prol de uma causa urgente: a luta por igualdade de reconhecimento da mulher neste mercado nos mais diferentes âmbitos – da expressão de opinião e posição ocupada no ambiente de trabalho à sua remuneração. Como consta no manifesto do Coletivo, “não se trata de excluir os homens de forma a reforçar o sectarismo, mas sim de nos fortalecer conjuntamente, para assim engrandecermos uma luta por igualdade de condições, sempre dizendo “sim” à diferença, e “não” à desigualdade”.
LabPub – No curso PROJETOS EDITORIAIS, o programa é bem recheado. Você tem alguma dica de leitura prévia para os alunos, ou qualquer outro conselho para quem embarcar nesse curso?
Daniela Senador – É um curso completo para quem deseja estruturar um pequeno negócio com profissionalismo e sustentabilidade financeira, seja ele novo ou já existente. Por ser essencialmente didático, mesmo quem só entende de edição de livros e nunca se deparou com a área de negócios poderá apreender os conhecimentos transmitidos e colocá-los em prática de acordo com a sua realidade. Como leitura prévia, recomendo os capítulos “Conhecimentos centrais de marketing”, “Planejamento estratégico de unidades de negócio” e “O processo de decisão de compra: o modelo dos cinco estágios”, da última edição do livro Administração de Marketing, de Kotler e Keller, recém-lançado pela Pearson. Ele é a “bíblia” do marketing e esta leitura já dá uma boa base para seguir.