Como que as histórias surgem?
Foram quatro palavras que me acompanharam aquele dia, me fazendo procurar respostas para uma pergunta talvez impossível de responder. “Tua mente me espanta”, foi o que ouvi quando despretensiosamente descrevi toda a história de vida do casal na mesa ao lado, no restaurante que almoçávamos todo dia. Bom, o casal também almoçava ali todo dia e, para mim, era uma questão simples de observação e criação. Observar e criar, observar e criar – sempre assim.
Mas, no espanto de meus amigos, percebi que nem toda mente funciona assim. Existem mesmo pessoas que são capazes de olhar os outros na rua e não imaginar sequer um motivo para eles estarem ali, exatamente naquele lugar, exatamente naquela hora?
Eu me lembro de estar sentada à escrivaninha da casa do meu pai e ele vir me perguntar qual jogo eu estava jogando no computador. Quando se aproximou, se espantou ao ver que, na verdade, eu estava com uma página do word aberta. Que tipo de criança aos onze anos de idade usa seu tempo no computador para escrever, ao invés de brincar? Ainda mais na época do computador de mesa e da internet discada, em que cada minuto na internet equivalia a basicamente uma fortuna na conta de telefone.
Acho que foi naquela idade que surgiram meus primeiros escritos. Um cachorro correndo no parque rendia uma nota sobre uma família que buscava seu animal de estimação que fora sequestrado. Um carro freando bruscamente se tornava uma grande notícia sobre os perigos de acidentes de trânsito. Foi assim que comecei a sonhar em ser jornalista. E foi a própria faculdade de jornalismo que me ensinou que eu queria mesmo era ser escritora.
Inventar histórias é algo tão natural quanto respirar. Esses dias, estava deitada no puff da sala de descanso da empresa onde trabalho e imaginei o que aconteceria se alguém abrisse a porta e encontrasse a sala já ocupada. Bastou um “e se” para uma nova história surgir em minha mente. Admito que entre surgir em minha mente e chegar ao papel exista um longo caminho – mas ei, estou falando de criar histórias, não necessariamente escrevê-las.
(Estou sentindo um julgamento. Não é necessário. Já me julgo suficiente por todas as histórias que imaginei, mas não escrevi.)
Agora, quando me perguntam como eu crio essas histórias (mesmo em minha mente), nunca sei responder. Elas surgem, como filmes completos em minha imaginação. Do nada, sem aviso, sem trailer, sem créditos finais. Às vezes, me pego tentando encontrar uma resposta para essa pergunta. Como que essas histórias surgem assim para mim? Mas, no fim, acabo sempre substituindo esta por outra questão: Como será que funciona a mente de quem olha o mundo ao seu redor e enxerga apenas a simples realidade? Como será olhar para uma pessoa sorrindo ao telefone e não imaginar a história por trás daquela ligação? Como será olhar para um casal que almoça rotineiramente no mesmo restaurante e não imaginar o momento exato em que se conheceram?
Gabriela Graciosa Guedes