Aperto das livrarias. O que fazer em um momento como esse?
Em um período de poucas semanas, tivemos duas notícias desagradáveis.
A primeira foi que a maior rede de livrarias do Brasil, a Saraiva, entrou em contato com editores para anunciar o bloqueio de pagamentos aos fornecedores durante um período mínimo de três meses. Mais recentemente, a Livraria Cultura anunciou que irá ampliar o prazo de pagamento e os descontos comerciais.
Não é um cenário novo: durante os últimos dez anos, vimos grandes redes se contorcendo para mudar, ampliar e também quebrar, como o caso da finada Laselva, que este ano deu seu último suspiro. É claro que, em se tratando de redes do tamanho da Saraiva e da Cultura, as dificuldades aumentam para todos; afinal, essas redes chegam a representar até 50% do faturamento de muitas editoras.
Além disso, a passagem pela crise econômica encontra na antioriginalidade um parceiro perfeito para tirar o sono dos editores. Culturalmente, estamos neste momento peculiar em que o leitor se arrisca menos com novos autores e opta por um caminho mais seguro, por obras cujos autores ele já conhece, ou por histórias multiplataformas, a partir das quais ele pode ter uma primeira experiência antes da compra. Para o livro, que sempre ofereceu a originalidade como diferencial, passamos a lidar com a indiferença pelo novo. Será que estamos preparados para isso?
Participo desde sempre de reuniões com o comercial, com livrarias e com clubes de livros e vejo na prática essas mudanças. Há algum tempo, provavelmente me matariam se eu contasse muitos detalhes sobre um livro. Para apresentar um autor ou uma nova história, eu me limitava a apenas dizer uma linha, o cenário, o gênero, o início do livro e o plot central. Hoje me perguntam como acaba, o que acontece com o personagem e, principalmente, as similaridades com autores já consagrados. Ninguém quer correr riscos. O problema é fazer entender que não há como definir esse tipo de risco. Há o livro bom e o livro ruim. E também há outra variável: o momento.
Conversando com outros editores, concordamos que lançar menos neste período é uma boa estratégia, mas ainda discutimos se, neste momento, grandes apostas devem ser lançadas: se corremos o risco de as livrarias investirem pouco no que poderia ser um best-seller. Por outro lado, o best-seller pode ajudar no crescimento das vendas. Também é possível negociar com gráficas, agentes e outros fornecedores, mas não muito: é preciso manter o giro. Vale também rever o tipo de obra a ser publicada neste período, priorizando gêneros e autores nacionais. Neste momento, em uma editora de interesse geral, acho mais seguro investir em não ficção. E sim, autores nacionais, sempre. Eles estão escrevendo com uma perspectiva muito mais alinhada ao leitor brasileiro, que está buscando referências.
É difícil saber como passar por mais um momento crítico como este. Mas dá para se ajudar. Pense nisso. E nos escreva para compartilhar suas experiências.
Ainda: confie no público. Ações diretas fidelizam, comunicação direta é fundamental. O marketing saberá dizer isso melhor do que eu.
Siga a minha mão, vai dar tudo certo. Dá pra dar uma forcinha positiva enquanto a tempestade passa.
Mariana Rolier
Há dezoito anos no mercado editorial, já teve passagens pela Globo, Planeta, Rocco e LeYa, onde ajudou a desenvolver o selo de quadrinhos Barba Negra e foi responsável por livros de fantasia e terror como a saga “As Crônicas de Gelo e Fogo” e “O Orfanato da Sra. Peregrine para Crianças Peculiares”. Atualmente é Gerente Editorial na HarperCollins Brasil.
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Pedrazul Editora publicará o livro traduzido no Real Job – tradutor literário
Quando montamos os cursos Real Job, tínhamos um único objetivo: ajudar profissionais a entrarem no mercado editorial já com um trabalho para uma editora no portifólio.
Por sinal, lembro até hoje que a ideia veio do André Castro, dentro de um táxi, onde também estava a Monique. Eu fui a primeira a ponderar (sim, sou dessas), mas quando chegamos no nosso destino, com as opiniões dos três, já tínhamos um modelo pronto. Eu agradeço diariamente por essa ideia do André, pois é um dos cursos mais interessante que temos aqui na LabPub.
No formato de uma oficina online, o aluno faz um trabalho de revisão ou tradução (são as duas modalidades que temos hoje) em um livro que será publicado.
A primeira turma do curso Real Job – tradutor de livros, traduziu o livro The Mill on the Floss, de George Eliot, com a supervisão da Monique D’Orazio. Foram vinte alunos que investiram várias semanas traduzinho e aprendendo a prática da tradução.
O livro, que está na fase final da tradução, encontrou uma casa perfeita para ser publicado: A Pedrazul Editora, sediada no Espírito Santo.Conversamos com uma das sócias, Chirlei Wandekoken, sobre a editora e o projeto junto com a LabPub:
Como surgiu a Pedrazul Editora?
Alguns amigos estavam numa casa de campo nas montanhas de Domingos Martins, todos leitores, conversando sobre os livros que gostariam de ler e não tinham traduções no Brasil. Quase que numa provocação, uma delas perguntou: “Por que você não abre uma editora, amiga? Você é tão empreendedora”. Semente plantada, outros profissionais convidados, a sociedade Ltda nasceu em 2012, mas o primeiro lançamento da editora só saiu em 2013. Villette, de Charlotte Brontë, foi o primeiro clássico publicado pela Pedrazul, em 2014. A editora tem três sócios Chirlei Wandekoken, Júlio Cesar Wandekoken e Eduardo Barbarioli.
De onde veio o foco editorial em clássicos ingleses?
Sou apaixonada pelos clássicos ingleses. Brinco sempre que minha alma é inglesa (risos). Eu queria muito ler alguns livros que não tinham traduções no Brasil, sequer em Portugal: livros de Charlotte Brontë (Villette e Shirley); de Elizabeth Gaskell, autora que escreveu a biografia de Charlotte Brontë, a pedido de Patrick Brontë, pai de Charlotte. A Predrazul já lançou praticamente todos os livros dessa autora, exceto Mary Barton, pois, embora estivesse em tradução, suspendi o lançamento: não tem razão nenhuma lançar duas traduções no Brasil com tanta coisa nova e boa à espera de tradução. E por aí vai. Eu queria ler os autores que influenciaram Jane Austen e lancei no Brasil de forma inédita Evelina, de Burney; Pamela, de Richardson e Belina, de Marya Edgeworth; obras de Thomas Hardy; de Dickens, de Troloppe, etc. Obras ilustradas originalmente. Bem, são muitas obras de autores ingleses e franceses que apresentamos aos leitores brasileiros e nos orgulhamos disso sem qualquer tipo de vaidade. É orgulho pelo legado. E clássico nacional também. Não lançamos aqueles que todos lançam, optamos pela esquecida Júlia Lopes de Almeida, maravilhosa.
O que você acha do curso Real Job e da oportunidade de publicar um livro traduzido dentro de um curso?
Achei maravilhoso. Nem acreditei. Achei que fosse pegadinha (risos). Como amo George Eliot e digo isso em toda entrevista que dou, achei que fosse alguma brincadeira de algum colega. Tenho todo interesse na publicação dos clássicos ingleses das futuras turmas, inclusive para um projeto novo.