A editora soprano
Mariana Rolier, uma das mulheres mais ativas do meio editorial brasileiro, é conhecida por fazer e ser muitas coisas. Inclusive, uma editora soprano. Para entender tudo isso, conversamos (e cantamos) um pouco.
texto:
Mariana Rolier cria um selo editorial. Mariana Rolier moderniza uma editora. Mariana Rolier por trás de um best-seller. Mariana Rolier agora edita conteúdo em áudio – livro também, em outra plataforma! Mariana Rolier é professora, das coisas do texto às tramas das vendas, de tudo o que é do livro. E isso tudo ainda diz pouco sobre ela.
O currículo da atual publishing manager da Storytel no Brasil e docente da LabPub tem vivências importantes por Ediouro, Leya, Rocco, entre outras casas editoriais. Mas a aura dela irradia sempre o que está por fazer. Inquietação&Atitude. Sabe aquela história da herança não ser o que a gente recebe, mas o que se faz com o que recebe? Pedimos à Cara&Coragem desta edição para contar alguns dos grandes desafios que enfrentou em sua trajetória editorial.
“Ainda que seja editora há vinte anos, estou trabalhando com audiolivro há apenas dois, o que significa que cada projeto é realmente desafiador. Pensar em trazer o texto para áudio sempre me emociona e me traz caminhos diferentes todos os dias. Digo que tenho grandes desafios pela frente, com grandes autores e grandes projetos, mas realmente trazer para o áudio os livros de Agatha Christie foi um processo bastante intenso. Pensar em personagens como Poirot e Miss Marple, e na responsabilidade de fazer com que os leitores exigentes de Christie apreciem a nossa produção me tirou o sono muitas vezes. Contudo, tenho a alegria de trabalhar com uma grande equipe, de pessoas muito apaixonadas, e juntos criamos o processo de texto, capa, licenciamento, marketing, voz, qualidade e execução que são marcas registradas da Storytel. Todos foram essenciais para o projeto e ao fim recebemos grandes elogios da fundação que cuida dos direitos autorais de Christie no mundo. Foi um projeto em equipe e realmente importante para meu crescimento como editora de conteúdo, seja impresso, áudio ou digital. “
Desconfiemos sempre da narrativa de “só sucessos”. Toda grande história tem tropeços e frustrações. Mas eles servem. São alicerce e são mola propulsora também.
“Os livros mais desafiadores da minha carreira foram os que, por algum motivo, acabaram não saindo. Aqueles que levaram anos para preparação e por alguma razão se perderam, todo editor tem uma história dessas. Minha maior frustração foi um projeto, uma mistura de autobiografia e história do cinema brasileiro, com o ator José Wilker. Passei anos ouvindo suas histórias, pensando com ele no projeto ideal, fizemos uma parceria com um grande jornalista que iria auxiliá-lo. Eu sabia que seria um projeto para anos, porque Wilker era complexo e maravilhoso e não poderíamos deixar que nada relevante escapasse. A história do cinema brasileiro se confundia com sua própria história e tenho certeza de que este seria um grande livro. Mas infelizmente fomos interrompidos pela brevidade de sua vida. Meses depois, reuni todos os textos que tínhamos construído e enviei para sua família. Gostaria de ter publicado este livro, mas ainda estava incompleto demais para representar quem realmente era José Wilker.”
Às vezes ela veste camisa e gravata, outras vezes camisetas de rock, no seu criativo e variado repertório de moda&ação. O gosto musical e o visual dessa publisher são ecléticos como seu próprio olhar, pronto para captar o que desejam os leitores (e agora ouvintes de livros). Perguntamos qual banda ela mais gostava na vida e ganhamos uma surpresa de grande alcance:
“Não consigo escolher uma banda, sou fã de um zilhão delas. Posso abrir o espectro musical? Queria ser Maria Callas. Cantar como ela cantava. Um dia entrei na aula de canto e perguntei para a minha professora, uma grande mezzo soprano: ‘Então, quero saber se um dia posso ser cantora de ópera e me apresentar no Municipal.’, e ela ‘Começando aos 38 anos? Dá pra cantar em casa, serve?’ hahaha.”