Quero ser editora!
Uma das coisas que mais gosto dos pequenos festivais (alguns nem tão pequenos assim!) é a possibilidade de falar com leitores, curiosos e pessoas que não fazem ideia do que é o mercado editorial. Além de esbarrar em autores e amigos em restaurantes e bares da cidade.
Semana passada, eu, Alessandra Ruiz, Camila Cabete e Pedro Almeida participamos do Flipoços, em Poços de Caldas, com três workshops voltados para o mercado editorial. O festival acontece junto com a Feira do Livro, que reúne estandes de várias editoras e fica sempre cheia, já que a cidade tem uma única livraria.
Se você imaginou que nossas mesas encheram, enganou-se. Para o público em geral, ouvir autores como Victor Bonini, Marcos DeBrito, Monja Cohen, Walcyr Carrasco, Andrea Del Fuego, Mary Del Priore, entre outros, sem dúvida é muito mais interessante.
Mas, dizem que às vezes a qualidade é mais importante que a quantidade e, no caso, foi!
A grande surpresa ficou por conta de uma jovem que chegou acompanhada de uma amiga e participou dos três workshops.
“Meu nome é Maria Eduarda, e quero ser editora de livros!” – foi o que ela respondeu quando pedimos para se apresentar. Assistir autores incríveis é legal? Tomar uma cerveja com um dos seus escritores preferidos é bom? Sim. Mas nada se compara a surpresa que essa menina causou em mim. Eu nunca tinha ouvido alguém com essa idade dizer que gostaria de ser editora de livros!
Sempre brinco quando alguém me fala que quer trabalhar com livros, dizendo que é melhor vender pão (minha segunda opção, né?). Mas, dessa vez não disse nada. Vim embora de Poços de Caldas, mas fiquei pensando sobre a Maria Eduarda por alguns dias e cheguei a algumas conclusões.
A primeira é que a formação do mercado editorial está mudando. Se antes a maioria que entrava na profissão era por “gostar de ler”, herança da família ou até mesmo sem querer, vemos uma nova geração buscando formação. Maria Eduarda ficou um bom tempo conversando com agente sobre qual faculdade daria a melhor formação, onde fazer etc. Uma nova geração que virá melhor preparada para o mercado!
A segunda conclusão é que a oportunidade que ela, e mais alguns, tiveram naquele dia foi impar. Três dos mais importantes profissionais do mercado editorial, na Biblioteca de um museu, de uma cidade com 160 mil habitantes, dando uma aula gratuita. E não foi só a programação da LabPub, muitos outros bate-papos, oficinas a disposição de toda a população. Se isso não fizer diferença para aumentar o número de leitores e consumidores de cultura, e ainda impactar os futuros produtores culturais, pouca coisa fará.
A terceira é bem pessoal. Pode ter Frankfurt, Guadalajara, Londres e Bolonha, são válidas e cada uma com seu objetivo. Mas para mim, as “FliS” é onde me encontro. Fiz uma conta rápida, no saldo tem Flip, Flimar, Fliaraxá, Forum da Letras, Festival da Mantiqueira e, agora, Flipoços. Que venham mais e outros, onde há pouco palcos e glamour, mas muito povo e interesse pela cultura.
Cassia Carrenho – sócia e diretora de comunicação
Formada em Artes Gráficas, começou sua carreira como diagramadora de livros, mas logo caiu nas graças da comunicação e marketing e trabalhou quase sete anos numa ONG. EM 2011, voltou para o mercado editorial e ficou seis anos no PublishNews. No último ano assumiu o cargo de mediadora de cursos EAD, além de produzir eventos na Flip, cursos de imersão e festas para o mercado editorial. Mãe de três moleques, ainda quer viver de fazer e vender pão na praia.