Gestão do lucro operacional e da necessidade de capital de giro
por André Castro
Quando se pergunta a um editor se o seu negócio está indo bem, normalmente ele responde tendo como parâmetro o faturamento. Se está maior do que o ano ou o mês anterior, a empresa vai bem, se diminuiu, vai mal.
O problema de se utilizar o faturamento como parâmetro para avaliação do desempenho do negócio é que não existe garantia de que o aumento do faturamento significará uma melhoria na situação financeira da editora.
Imagine que o crescimento das vendas venha do aumento no número de lançamentos. Em um primeiro momento, a editora necessitará gastar mais em compras gráficas, editoriais e adiantamento de direito autoral. O mais provável é que, no curto prazo, o aumento do faturamento não compensará o crescimento dos gastos, diminuindo a liquidez da empresa.
Se o aumento das vendas for proveniente de uma maior agressividade comercial, com aumento nos descontos ou no número de pontos de venda, isto pode levar a uma perda de margem ou crescimento do custo fixo significando, no final do processo, uma piora no caixa da editora.
Se faturamento elevado fosse garantia de bom desempenho, não teríamos grandes editoras, e livrarias, indo à falência.
Só existe um indicador que garante o bom desempenho de uma empresa: a geração de caixa.
É a geração de caixa que assegura dinheiro na conta corrente. O faturamento sozinho não faz isto, nem o lucro. Existe editora que quebra dando lucro, gerando caixa não.
O que toda editora deve perseguir é um fluxo de caixa positivo recorrente.
O fluxo de caixa deriva de dois indicadores: necessidade de capital de giro e lucro operacional
Necessidade de Capital de Giro (NCG)
Na maior parte das indústrias, as saídas de caixa ocorrem antes das entradas. O mercado editorial não é exceção. Pagamos adiantamento de direitos autorais, contratamos colaboradores para trabalhar no texto, investimos em marketing, pagamos a gráfica, para depois realizar a venda. E depois ainda damos prazo para os clientes nos pagarem. Essa situação cria uma necessidade de aplicação de recursos permanente. A isto damos o nome de Necessidade de Capital de Giro (NCG). Quando esta necessidade aumenta, dizemos que houve investimento em capital de giro.
Destaco abaixo as variáveis mais importantes que impactam a NCG de uma editora e algumas sugestões para melhorar este indicador:
- Investimento em estoque: garantir que o giro do estoque não aumente, controlando o momento da impressão, a tiragem e o prazo de produção editorial dos livros.
- Investimento em contas a receber: ser rigoroso na concessão de aumento de prazo de pagamento – de preferência sempre negar. Para minimizar esse efeito devemos negociar o prazo de pagamento de nossas compras.
- Investimento em adiantamento de direitos autorais: procurar alongar o prazo de pagamento e, principalmente, não demorar para lançar o livro, esta demora posterga o retorno do investimento.
Lucro operacional
Lucro operacional é o resultado obtido pelas vendas efetuadas, descontados os custos e despesas fixas e variáveis. Importante ressaltar que ele tem como regra o regime de competência, ou seja, consideramos as vendas quando a nota fiscal é emitida e não quando a editora recebe por estas vendas.
Sobre as variáveis que influenciam o lucro, apresento algumas sugestões para os gestores:
- Volume de vendas: garantir que esteja dentro do projetado, portanto, se torna importante que seja feita uma previsão dos resultados, ao menos uma vez por ano.
- Preço de capa líquido: praticar uma política de preços que esteja alinhada com o segmento de mercado da editora, que garanta uma margem bruta adequada e ser rigoroso com a concessão de descontos comerciais.
- Custos e despesas variáveis: criar métricas mínimas para os gastos variáveis de forma a não lançar produtos com margens inferiores ao planejado e que funcionem como um piso para a concessão de descontos adicionais.
- Custos e despesas fixas: estabelecer qual o máximo aceitável de gastos, dado o nível de faturamento da empresa e o lucro operacional pretendido, ser intransigente em seu cumprimento e reduzir a meta quando o faturamento sofrer um decréscimo.
Conclusão
Os editores devem trabalhar com afinco para que o Lucro Operacional esteja sempre no azul e que a NCG tenda a estabilidade, impedindo investimentos crescentes e desordenados. Qualquer desequilíbrio entre estas métricas significará um problema de
caixa no futuro.
O que observo no mercado é que poucas são as empresas que fazem este tipo de acompanhamento. Falta disciplina para cobrar as Demonstrações Financeiras mensais e uma capacidade analítica para interpretar corretamente as informações. Os editores costumam ter dificuldade de associar os dados consolidados ao seu trabalho na produção e vendas dos livros, não percebendo que todas as suas decisões impactam nos resultados financeiros.
Mas a única forma de garantirmos o sucesso do negócio é acompanhando todas as variáveis citadas anteriormente e agindo quando elas não estão alinhadas com o planejado. Pode parecer trabalhoso, mas com disciplina e rigor técnico é possível fazer este monitoramento e garantir o que desejamos: um fluxo de caixa positivo recorrente. Esta sim, a variável que de fato importa em qualquer empreendimento.
Nunca devemos esquecer que as empresas não quebram por falta de venda, quebram por falta de caixa.
André Castro é cofundador e diretor da LabPub e do núcleo Inteligência Financeira para Editoras.
Referência:
FLEURIET, Michel. O modelo dinâmico de gestão financeira. Rio de Janeiro: Alta Books, 2015.