O Lobo e o Molusco na literatura
Pareceria do roteirista e editor com o autor do canal de YouTube Mundo Molusco alcançou grande sucesso no Catarse e já investe em mais produtos editoriais.
Nossa entrevista é com Lobo, roteirista e editor de HQs. Nascido em Porto Alegre, aonde voltou a morar recentemente, tem no currículo criações como a revista “Mosh” (com Renato Lima) e a editora Barba Negra. Também trabalhou como diretor de arte em agência, até desistir da publicidade, e foi coordenador editorial na Desiderata (depois adquirida pela Ediouro). A esse currículo ele acrescentou esse ano a publicação do livro Moluscontos, com ilustrações de Leandro Assis, a partir de contos publicados no canal de YouTube Mundo Molusco, que acumula milhões de visualizações.
LabPub — A campanha do Catarse para publicação do livro Moluscontos foi muito bem-sucedida. Foi sua primeira nesse formato?
LOBO — Todo livro é uma aposta no escuro. Não tem como saber se vai dar certo ou não. A campanha do Moluscontos foi um grande sucesso, no primeiro dia atingimos vinte por cento da meta, então eu entendi que tudo correria bem dali por diante, mas não imaginei que a gente atingiria mais de cento e cinquenta por cento da meta. O Molusco tem uma relação muito próxima com o público reunido nos dez anos de canal no YouTube, Mundo Molusco. E eles respondem muito rápido, tão rápido que em vez de publicar apenas um livro, decidimos montar uma editora canábica. Em breve divulgaremos os próximos títulos e autores. Como editor, já produzi e participei de umas poucas campanhas, sempre em parceria com autores: Porco Pirata, do João Azeitona e Até Aqui tudo bem, do Rafael Corrêa tiveram bastante sucesso. A campanha do Castanha do Pará só dei pitaco, o Gidalti fez tudo sozinho e também teve saldo positivo. Participei de outras que deram com os burros n’água, numa cheguei a dois por cento da meta. Financiamento coletivo dá muito trabalho, manter uma campanha ativa requer esforço e jogo de cintura. O que as campanhas que não deram certo têm em comum? Os autores não se empenharam, não compraram a briga. Não tem como fazer uma campanha dar certo assim. Infelizmente, pra coisa funcionar, os participantes têm que estar comprometidos e ser um pouco chato mesmo. Mas é a diferença entre ser chato e realizar e ser um sujeito legal e não realizar.
LabPub — Quais as principais dificuldades e possibilidades do crowdfunding?
LOBO — O crowdfunding funciona como uma pré-venda, lógica já usada pelo mercado do livro, mas antes feito entre livraria e público, não entre autor e público como é agora. É um modelo de investimento que te possibilita tirar do zero uma publicação e entregá-la direto na mão do leitor. Agora estamos testando um novo modelo de campanha, recorrente, funciona como uma assinatura mensal, o gibi MOLUSCOMIX. Hoje enviei para a gráfica os arquivos da terceira edição. Tá sendo um desafio manter o compromisso todo mês, mas dá uma satisfação danada ver o gibizola pronto.
LabPub — Como surgiu a ideia, quantas pessoas envolvidas no projeto?
LOBO — O mundo dá as suas voltas. Na Desiderata publiquei um livro com roteiro do Leandro Assis, O Cabeleira. Noutra volta, o Leandro foi trabalhar no departamento de roteiro da Conspiração Filmes, onde conheceu o Molusco. Mais uma volta, já na Editora Barba Negra, colocamos um conto do Molusco no livro Verão da Lapa, do Wilson Aquino. Mas não conheci o Molusco na época. Volta vira, um dia fiquei pasmo olhando os desenhos fodas do Leandro Assis no Instagram: eu editei um roteiro do sujeito e não sabia que ele desenhava? Ele disse que queria se tornar desenhista de quadrinhos e estava desenhando todo dia. Eis que na reviravolta Leandro me chama um dia dizendo que tinha achado o projeto que queria fazer e trouxe a ideia de adaptar para livro os contos do Molusco. Este projeto tem sido um achado de novos parceiros e possibilidades. A Samantha Desimon faz todo o site, gerencia o e-commerce da editora e faz o atendimento aos leitores. Sempre tive grande admiração pela ilustração e design do Renato Faccini, que abraçou a causa e nos brindou com esse projeto gráfico de primeira. Ele é um sujeito genial, dono de uma criatividade gráfica absurda! O Fábio Pinto é parceiro de longa data, de bar e de letras, fez toda edição e preparação de texto do livro, ele quem achou a voz narrativa do Molusco. Mas tem muito mais gente boa envolvida na produção.
LabPub — Você já foi coordenador editorial, já montou uma editora (a Barba Negra): sobre essas experiências, que qualidades observaria hoje para contratar alguém para sua equipe?
LOBO — O primeiro critério é paixão pelo livro. Gosto de gente que discute o trabalho e que pensa fora da caixinha, que busca novas possibilidades, jeitos diferentes de fazer. Além de muita disposição para errar.