Ainda mais na crise, pensar é fundamental
Mariana Rolier, professora da LabPub e editora na Storytel, fala dos desafios atuais do editor de aquisição, o profissional que tem um olho no momento e outro no futuro.
LabPub – Quais as características de um editor de aquisição? São específicas ou as mesmas do editor de texto?
Mariana Rolier – São bem diferentes. Ainda que seja desejável ter conhecimento ou experiência como editor de texto para avaliar a qualidade da escrita, o editor de aquisição precisa ter qualidades de um Head Hunter: pensar no agora e no que se desdobra daqui para a frente, pensar estrategicamente no público da editora e em sua evolução, ter estilo e capacidade de criar e organizar um catálogo e trazer obras que conversem entre si. É uma curadoria, e estudar como esta curadoria deve ser construída para uma editora é a principal qualidade do editor de aquisição.
LabPub – Como se chega a ser um editor de aquisição?
Mariana Rolier –Geralmente se começa como editor de texto e, a partir de uma crítica muito pessoal que vai se desenvolvendo ou edições textuais de um tipo específico ou categoria, o editor vai aprimorando seu senso estratégico e sua sensibilidade para novos projetos. Alguns também vêm do jornalismo, com experiência de curadoria de jornais e revistas. Aqui vejo muitas pessoas chegando após longas carreiras. Mas não importa onde se coloca o pé pela primeira vez: o que define um editor de aquisição é a vivência do dia a dia da editora. Cada uma tem uma personalidade diferente. Saber entender o que se faz e o que se pretende fazer como uma escala evolutiva do negócio é a meta mais importante.
LabPub –No momento atual, a aquisição deve ficar em segundo plano ou pode ser um momento de muita oportunidade?
Mariana Rolier –A aquisição não pode parar, é o coração do negócio. Se a editora não tem novos livros ela não gira, ela não é saudável. O que é essencial é tirar o pé do acelerador, pensar em negócios possíveis para o momento, sem ofertas malucas ou aquisições de vaidade. Em um momento como este todos estão em sintonia: autores, agentes, editores. É preciso negociar com os pés no chão e entender seu próprio limite. Há grandes oportunidades, histórias maravilhosas e (acho) uma redefinição de valor do que é um livro, um autor e um editor para o mercado editorial. Vejo uma valorização mais evidente entre leitor e autor. Mas é preciso ajudar a construir este cenário.