Marcos Marcionilo, entre pensamentos e fazimentos
“Fazimento”… vai dizer que não existe, que é estranho, mas Darcy Ribeiro por exemplo usava muito esse termo. Tem a ver com isto: o homem que reflete e que realiza, que melhora o viver nesse mundo.
As publicações da Parábola Editorial, essenciais no Brasil para os estudos das línguas e linguagens, para o pensamento sobre a leitura e a escrita, para a literatura, para a filosofia, são parte desses tantos “fazimentos” de Marcos Marcionilo como publisher. Como tradutor, outros muitos. Marcionilo faz traduções desde o fim da década de 1980. Formado em Filosofia pela PUC-SP, ele nunca largou o pensamento em nome de nada. A reflexão gera suas ações, que são refletidas por ele, mas sem nenhuma pose de estátua, não: é tudo entre sorrisos de gentileza e humor – característica de sua inteligência. Mas melhor do que falar desse querido professor da LabPub é escutá-lo, lê-lo.
LabPub – Marcos, geralmente elaboramos perguntas melhores, confessamos, mas nessa semana deu uma vontade danada de sermos mais irresponsáveis… Então deu nisto: três perguntas que mais oferecem vertigem que caminhos, mais liberdade que razão, que são mais provocação e convite à reflexões livres do que perguntas verdadeiramente.
Marcos Marcionilo – Como resistir?
LabPub – Abraços ou Palavras?
Marcos Marcionilo – Palavras. Sempre! Palavras são sempre mais expressivas, das mais antigas às ainda por inventar. Sem contar que elas podem inspirar abraços, sugerir afetos, decidir destinos. Palavras podem ser atos de fala, do tipo: “Eu vos declaro marido e mulher, marido e marido, mulher e mulher” e, consequentemente, provocarem novos abraços, fazer nascerem proximidades, partejar separações, novas junções… e assim ao infinito. Palavras podem doer e curar. Palavras são nosso único universo possível, onde tudo o mais se gesta, inclusive emocionados, deliciosos, inesquecíveis… abraços.
LabPub – Filosofia ou Ficção?
Marcos Marcionilo – Filosofia, sem a menor dúvida. Filosofia como fonte do temor, do tremor, como “thaumazein”, o momento primeiro de admiração e espanto diante do inexplicável de tudo. Filosofia como momento em que a linguagem começa a tatear mistérios. Filosofia como aventura humana que nos faz perder a ingenuidade. Filosofia como o instrumento que nos lança no humano demasiado humano, sem deuses, sem redenção, tendo só espanto, admiração e dúvida como instrumentos para o caminho. O resultado é tudo o mais o que temos, até a ficção.
LabPub – Rio ou Mar?
Marcos Marcionilo – Todos olhamos para o Mar e nos embevecemos, mas eu escolho o Rio, os Rios, porque eles todos correm para o Mar e, enquanto correm, enquanto não desaguam, enquanto não se transmutam em Oceano, fecundam a Terra, nosso hábitat ameaçado, e nos permitem estar ainda aqui, respirando e sendo. Além disso, seu traçado sinuoso, resultado da astúcia engenhosa das águas, me serve de metáfora de como deve ser a vida: se o obstáculo é de pedra inamovível, tente fazer como a água doce dos rios: dar a volta, impregnar [na tentativa de deixar marcas] e passar. “Porque tudo passa”.