Mesa longa para várias cadeiras
Tracy Segal
A mesa mal cabia na sala, uma discrepância aquela mesa de madeira demolida, boa para salas amplas e arejadas.
Ela sempre sonhou com uma família grande, reunida às refeições, ao redor da mesa de 6 lugares. Não tinha, é verdade, ainda, as 6 cadeiras, apenas 2 herdadas da velha tia avó do marido – colhidas no desmonte do apartamento da tal tia, quando falecida. As 2 cadeiras, de madeira maciça, se encaixaram como uma luva na tal mesa longa, projetada para acolher a família que surgiria de seu ventre, um dia.
Só que o casamento ruiu sem filhos, e sobrou o mastodonte no centro da sala.
Quedava ali, encostada à parede, para disfarçar a ausência de cadeiras.
Não tardou a vir o próximo a se sentar à mesa sem cadeiras próprias. O novo homem, intrépido, posicionou a dita junto à janela, mas os gatos usavam de passagem e assim não serviu, pois vivia suja de areia das patinhas dos bichanos. Cambiou, então, para a parede oposta, próxima à cozinha – uma verdadeira dança da mesa sem cadeiras! Ao fim, ele se foi, e a mesa retornou ao seu antigo posto. Outros passaram em passo tão lépido que mal perceberam a mesa desajustada.
Foi o olhar perspicaz de um amigo que soprou a mesa para o centro da sala, ainda ao longo, apenas a descolou da parede.
Agora, uma grande mesa de centro! Nem desejava mais cadeiras. O ventre cansado, a mesa acomodada, apenas um jarro amarelo cheio de flores pequenas.
Sorriu para sua sala equilibrada, sem filhos, sem maridos, sem pratos.
O sol da manhã riscava a longa mesa para flores. Brancas ou amarelas.